quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Carta da Laura


Amor Veneris,

Padeço duma alegria crônica desde que faleceu o Coronel

Alegria e solidão

ñão o objeto, mas a palavra que me falta quando vocês me apedrejam dizendo coisas que fingem saber a meu respeito

não o objeto, mas a palavra lixo que dizem que eu carrego pela noite

não o objeto, mas a palavra rua que nasceu por dentro de minhas unhas sujas de esperma e saliva

isso até doi, não o objeto, objeto não doi, doi a palavra rua que me engasga de manhã

não o objeto, mas a palavra sexo: uma pedra de sal na minha boca

durmo no chão do dia e estou viva, não se iludam, não sou pobre nem vivo na mendicância, nunca pedi nada a ninguém!

Não quero nada de ninguém, quero o que é meu. Devolvam minha casa, meus filhos, me cachimbo e minhas jóias, ladrões.

Artistas ladrões.

a chegada da vaidade fez de mim uma mulher um tanto conflituosa, sou linda e tenho muito ouro! ninguém consegue ver?

cegos, todos estão cegos, niguém sabe do amor nem da ardência que isto causa na boca do estômago

nunca tenho fome! Apenas fico tonta e caio no chão.

Amo o chão que acolhe minha queda.

O gole da vítima momentos antes da morte a faz ficar cega, mas afinal, o veneno era pra cegar ou pra matar aquele homem que morreu cego de tanto cagar?

a palavra sexo: uma pedra de sal na minha boca

sal e nuvens

aquela rua cheia de carroças saindo de dentro das minhas unhas pra eu te arranhar com mais tesão e muita pressa. aquela rua, minha previsão de felicidade. Lá sempre me encontro com o coronel e ele me toca como se eu fosse o seu violino, me penetra com o arco da música e esvasia-se nas palavras guardadas entre meus dentes.

Tenho trabalhado muito, a noite inteira, ninguém sabe, ninguém nunca vai saber, trabalhos secretos que eu não mostro a ninguém.

Quero viver ainda mais uns cem anos pra vê-los mortos e insatisfeitos. Nunca vão ver meus trabalhos secretos.

Vênus está morta e o céu caiu da minha vagina.

Nunca vou revelar o nome daquele que me violou quando eu estava enferma debaixo do cobertor branco e molhado.

não a pessoa, mas o nome do homem que jogou sal na minha boca.

Ficaram loucos? Confundiram tudo:O nome não é a pessoa, então mesmo que eu revele, ninguém jamais o saberá.

Triste de quem precisa de um nome para ser identificado. Nunca mais nasceu criança aqui neste mundo, por isso é que vocês precisam da palavra, do nome. O meu não revelo.

Vou partir em breve, vocês ficarão, não estou me despedindo só quero que parem de me perseguir tentando saber das minhas coisas mais íntimas, parem de se ocupar da palavra Laura, porque nasceu uma rua rua dentro de minhas unhas então eu posso me aborrecer muito e impedir que vocês passem por esta rua.

Escrever sai sangue dos dedos.

Pintar sangra os olhos

e mijar escorre o sal do sexo.

Chega!!!!


Jóia Laura

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